Descartes deu o mote. A filosofia deste deste espaço é antes de mais dedicado ao sonho, às duvidas existênciais à escrita e ao prazer da leitura, um blog onde a actualidade não pode deixar de estar presente.




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DA FICÇÃO À REALIDADE, UM PEQUENO PASSO

Os recentes acontecimentos no Haiti, vieram recordar-me um texto de um romance que ando a escrever há cerca de dois anos.

Em memória dessas vitimas e suas fragilidades, levanto aqui a pontinha do véu deste texto inédito, para reflexão.
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CIDADES ARMADILHAS MORTAISxls  capitulo IV


Por aqueles sombrios dias, a sua cidade não era excepção, era bem real a adversidade que por ali grassou inesperadamente, sem que ninguém o conseguisse prever atempadamente, não só ali mas também na esmagadora maioria das cidades do mundo, tal como cá, haviam virado terra de ninguém face aos recentes acontecimentos, onde impera caos e terror, e os homens para sobreviverem ou simplesmente para que os filhos não morram de fome, têm necessariamente de lutar entre si, sem culpas ou remorsos na alma, matar ou morrer por um pequeno pedaço de pão ou por um pouco de água potável para matar a sede, desgraçadamente.

Grupos de crianças sem pai e mãe deambulam alheios, buscando abrigo seguro, percorrerão ruas procurando por entre escombros das casas que ruíram que sepulta ainda corpos anónimos que ao apodrecer ajudarão a espalhar doenças, crianças ou homens, cada um por si, numa terra sem lei onde os mais fortes sobreviverão. Todos foram enganados, afinal a cidade protectora construída ao longo dos séculos ruiu como um baralho de cartas, num amontoado de pedras sobrepostas sobre a dor dos homens, no afinal tornou-se uma armadilha fatal, jamais quem lá tinha a sua vida foi preparado em momento algum, para sobreviver a condições tão adversas, especialmente dentro de cidades, onde dependiam exclusivamente de terceiros, que lhes vinham trazer ali, tudo o que necessitavam.  Até a própria agua que chegava canalizada deixou de pingar nas torneiras. Ao partir-se a cadeia de distribuição, ficam os seus habitantes completamente deficitários de tudo, à mercê dos que sem qualquer espécie de pudor, violentaram outros para sobreviver, onde ninguém conhece ninguém e é fácil poder com o mal dos outros, tal como num documentário de uma cena de uma qualquer guerra violenta e feroz, que chega sem pedir licença a todos os lares através da televisão à hora de jantar e nos é servida como se fosse filme bem encenado e comodamente assistimos no sofá, e sem pudor ao toque de um dedo no comando mudamos de canal, mudando de assunto, aborrecidos como se não gostássemos do filme, mas na verdade o que estamos é cada vez mais insensíveis e imunes à violência das imagens que vemos, inconscientemente não distinguindo o real da ficção.

Afinal isto não era um filme era mesmo realidade acontecendo...

Os últimos acontecimentos tiveram uma dimensão trágica e apocalíptica sobretudo para os que tiveram a dura tarefa de sobreviver, confrontados com tanta dor, ficaram indiferentes a tudo, tal foi a brutalidade que tudo triturou, onde os laços mais sagrados que são entre outras coisas, o respeito que se deve pela própria existência vida humana, caso contrário o lado animal que existe em cada pessoa, acabará por vencer a razão,  sob a forma de instintos naturais de sobrevivência, há muitos milhares de anos adormecidos, acabaram por reaparecer. A tarefa que sa apresenta a quem sobrevive a isto é uma enorme tarefa, ter que voltar a reaprender tudo e rápido, antes que fosse tarde demais. Esses instintos, acabaram por ter que se sobrepor a todos os valores morais, a milénios de civilização de aprendizagem e evolução constante, do que é viver em sociedade, com tudo que isso representa e implica.




2 comentários:

  1. "tal como num documentário de uma cena de uma qualquer guerra violenta e feroz, que chega sem pedir licença a todos os lares através da televisão à hora de jantar"

    Está tudo dito.

    Excelente texto.

    Abraço.

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  2. Começo por agradecer o teu comentário no meu Blog, fiquei sensibilizada.
    Passo a dizer que gostei também muito deste teu Blog, pois é um "canto" de sabedoria, com "sumo" reflexivo. Muito bem escrito este texto e bem descrito à distância o "negrume" da desgraça humana vivida no Haiti, como em qualquer lugar onde a natureza vence o homem, fraco, entregue às vicissitudes da sua condição impotente, mas plena de emoções, que o distanciam do animal puramente biológico.
    Abraço, como tua "seguidora", com interesses e pensamentos algo comuns, pelos vistos e da mesma geração...Meg

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