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Sabia que a noite era sua aliada, o principal obstáculo era chegar junto ao rio, uma vez nele, com calma e a coberto da noite seria capaz de levar os seus filhos e mulher, em segurança até à serra da estrela. Não sabia o que iria encontrar, seria um tiro no escuro, mas tinha que arriscar. Ele a mulher e os seus filhos iriam deixar o seu refúgio naquela noite escura sem o brilho da lua, pois o céu continuava encoberto pelas poeiras que teimavam em continuar no ar. Com alguma dificuldade conseguiram trazer para fora o pequeno barco de recreio. Teria que deixar para trás as recordações, mas também os carros o motor do barco e o combustível, que tinha religiosamente guardado esperando o momento em que pudessem vir a ser úteis, no momento de nada valiam por isso teve de os deixar, levando só o indispensável, roupas e agasalhos para a serra, e os últimos mantimentos que tinham, e muita fé em Deus, preparam-se para abandonaram o seu refúgio. Voltou a colocar os ramos e algumas pedras na entrada do seu refúgio, não sabia se voltaria aquele local, provavelmente não, apesar de ter prometido o contrario a Renata. O dia do amanhã é uma incógnita, poderia ter que voltar nessa mesma noite casa surgisse algo inesperado. Pelo sim pelo não o melhor era disfarçar a entrada como sempre tivera feito até ali. Partia com a convicção de que cada minuto que passasse poderia ser demasiado tarde, estava farto de viver escondido como um rato.

Lentamente, sem fazer ruído, a meio do caminho, já as pernas dos pequenos começavam a fraquejar. Pegou nas mochilas dos filhos e colocou-as no interior do barco, para lhes aliviar a carga. Com esta carga suplementar, a viagem até ao rio não foi facilitada, mas as palavras doces de Renata incentivava os filhos, ela tal como um homem carregou conjuntamente o barco até à beira do rio, sem fraquejar ajudando o marido.

Este tirando partido de conhecer bem o local, conseguiu arranjar uma enseada, onde puderam colocar o pequeno barco na água e embarcar. Devagar foram-se afastando da margem, utilizando os remos, conforme haviam estabelecido no plano de fuga. Deitou os olhos pela última vez, um olhar para a sua Coimbra, sua querida cidade, havia sido literalmente destruída, sentia naquele instante uma profunda dor no seu peito, ao deixar nela a sua pequena Pamela, apenas lhe restava tentar encontrar um sítio onde a sua família pudesse voltar a sorrir de novo. Renata aconchegou os filhos contra si, naquela noite todos sabiam que estavam a jogar uma cartada certeira.

O futuro de todos estava em jogo, sobretudo o futuro dos filhos, pois no meio da miséria em que se tinha transformado a sua cidade, jamais teriam a mínima possibilidade de sobrevivência a longo prazo. Não podia arriscar a subir o rio á luz do dia, a viagem seria feita apenas de noite, conforme o planeado. Lentamente viram-na ficar para trás, devagar foi remando de mansinho pelo rio acima, rumo à liberdade.

Continua... brevemente em livro